30 de junho de 2010

Turismo e Biodiversidade

Mensagem do Conselho Pontifício para a Pastoral dos Migrantes e Itinerantes, para o Dia Mundial do Turismo (27.09)


Com o tema Turismo e biodiversidade, proposto pela competente Organização Mundial, o Dia Mundial do Turismo quer oferecer sua contribuição a este 2010, declarado pela Assembléia Geral das Nações Unidas "Ano Internacional da Diversidade Biológica". Tal proclamação nasce da profunda preocupação "pelas repercussões sociais, econômicas, ambientais e culturais da perda da diversidade biológica, incluídas as conseqüências adversas que entranha para a consecução dos objetivos de desenvolvimento do Milênio, e destacando a necessidade de adotar medidas concretas para inverter esta perda". [1]

A biodiversidade, ou diversidade biológica, faz referência à grande riqueza de seres que vivem na Terra, assim como ao delicado equilíbrio de interdependência e interação que existe entre eles e com o meio físico que os acolhe e condiciona. Esta biodiversidade se traduz nos diferentes ecossistemas, dos quais são um bom exemplo os bosques, os pantanais, as savanas, as selvas, o deserto, os recifes de corais, as montanhas, os mares, ou as zonas polares.

Perante isto se pairam três grandes perigos, que requerem uma solução urgente: a mudança climática, a desertificação e a perda da biodiversidade. Esta última está se desenvolvendo nos últimos anos a um ritmo sem precedentes. Estudos recentes indicam que, a nível mundial, estão ameaçados ou em perigo de extinção 22% dos mamíferos, 31% dos anfíbios, 13.6% das aves e 27% dos recifes. [2]

Existem numerosos setores de atividade humana que contribuem grandemente a estas mudanças, e um deles é, sem dúvida alguma, o turismo, o qual se situa entre os que têm experimentado um maior e rápido crescimento. Ao respeito, podemos recordar as cifras que nos oferece a Organização Mundial do Turismo (OMT). Os turistas internacionais foram de 534 milhões em 1995, e 682 milhões em 2000 e as previsões que apareciam no informe Tourism 2020 Vision são de 1006 milhões para o ano de 2010, e que chegariam a 1561 milhões em 2020, com um crescimento médio anual de 4.1%. [3]

E a estas cifras de turismo internacional teria que acrescentar as mais importantes do turismo interno. Tudo isto nos mostra o forte crescimento deste setor econômico, o que comporta alguns importantes efeitos na conservação e uso sustentável da biodiversidade, com o conseqüente perigo de que se transforme num sério impacto meio ambiental, especialmente pelo consumo desmedido de recursos limitados (como a água potável e o território) e pela grande geração de contaminação e resíduos, superando as quantidades que seriam assimiladas por uma determinada zona.

A situação se agrava pelo fato de que a procura turística se dirige cada vez mais aos destinos da natureza, atraída pelas suas inumeráveis belezas, o que supõe um impacto importante nas populações locais, na sua economia, no seu meio ambiente e em seu patrimônio cultural. Este fato pode ser um elemento prejudicial ou, ao contrário, contribuir significativamente e em modo positivo à conservação do patrimônio. O turismo vive assim um paradoxo. Se por um lado surge e cresce graças à atração de paisagens naturais e culturais, por outro lado estes podem chegar a ser deteriorados e inclusive destruídos pelo mesmo turismo, o que significa ser rejeitados como destinos e não gozar da atração que era na origem.

Por tudo isso, devemos afirmar que o turismo não pode eximir-se de sua responsabilidade na defesa da biodiversidade, pelo contrário, deve assumir um papel ativo na mesma. O desenvolvimento deste setor econômico deverá ser acompanhado inevitavelmente dos princípios de sustentabilidade e respeito à diversidade biológica. De tudo isto se preocupou seriamente a comunidade internacional, e sobre o tema realizaram-se reiterados pronunciamentos. [4]

A Igreja quer juntar a sua voz, a partir do espaço que lhe é próprio, partindo da convicção que ela mesma "sente o seu peso de responsabilidade pela criação e deve fazer valer esta responsabilidade também na esfera pública. Ao fazê-lo, não tem apenas de defender a terra, a água e o ar, como dons da criação que pertencem a todos, mas deve sobretudo proteger o homem da destruição de si mesmo". [5]

Embora evitando de intervir sobre soluções técnicas concretas, a Igreja, se preocupa de chamar a atenção para a relação entre o Criador, o ser humano e a criação. [6] O Magistério reitera insistentemente a responsabilidade do ser humano na preservação de um ambiente integro e sadio para todos, a partir do convencimento que "a tutela do ambiente constitui um desafio para toda a humanidade: trata-se do dever, comum e universal, de respeitar um bem coletivo". [7]

Como foi indicado pelo Papa Bento XVI na sua encíclica Caritas in veritate, "o crente reconhece o resultado maravilhoso da intervenção criadora de Deus, de que o homem se pode responsavelmente servir para satisfazer as suas legítimas exigências — materiais e imateriais — no respeito dos equilíbrios intrínsecos da própria criação", [8] e cujo uso representa para nós "uma responsabilidade que temos para com os pobres, as gerações futuras e a humanidade inteira". [9] Por isso, o turismo deve respeitar o meio ambiente, procurando alcançar uma perfeita harmonia com a Criação, de modo que, garantindo a sustentabilidade dos recursos de que depende, não origine irreversíveis transformações ecológicas.

O contato com a natureza é importante e, portanto, o turismo deve esforçar-se para respeitar e valorizar a beleza da criação, a partir do convencimento de que "muitos encontram tranquilidade e paz, sentem-se renovados e revigorados quando entram em contacto direto com a beleza e a harmonia da natureza. Existe aqui uma espécie de reciprocidade: quando cuidamos da criação, constatamos que Deus, através da criação, cuida de nós". [10]

Todavia há um elemento que torna ainda mais exigente este esforço, isto é, na sua busca de Deus, o ser humano descobre algumas vias para aproximar-se ao Mistério, que tem como ponto de partida a criação. [11] A natureza e a diversidade biológica nos falam do Deus Criador, o Qual se faz presente na sua criação, "de fato, partindo da grandeza e beleza das criaturas, pode-se chegar a ver, por analogia, o seu Criador" (Sb 13,5), "pois foi o Principio e Autor da beleza quem as criou" (Sb 13, 3). É por isso que o mundo na sua diversidade, "oferece-se ao olhar do homem como rasto de Deus, lugar no qual se desvela a sua força criadora, providente e redentora". [12] Por este motivo, o turismo, aproximando-se à criação em toda a sua variedade e riqueza, pode ser ocasião para promover ou acrescentar a experiência religiosa.

É urgente e necessário encontrar um equilíbrio entre o turismo e a biodiversidade biológica, em que ambos se apoiem mutuamente, de modo que desenvolvimento econômico e proteção do ambiente não apareçam como elementos opostos e incompatíveis, mas tenda a conciliar as exigências de ambos. [13]

Os esforços de proteger e promover a diversidade biológica na sua relação com o turismo passam, em primeiro lugar, por desenvolver estratégias participativas e partilhadas, nas quais se comprometem os diversos setores envolvidos. A maioria dos governos, instituições internacionais, associações profissionais do setor turístico e organizações não governamentais defendem, com uma visão a longo prazo, a necessidade de um turismo sustentável, como única forma possível para que o seu desenvolvimento seja ao tempo economicamente rentável, proteja os recursos naturais e culturais, e sirva de ajuda real na luta contra a pobreza.

As autoridades públicas devem oferecer uma legislação clara, que proteja e potencie a biodiversidade, reforçando os benefícios e reduzindo os custos do turismo, e também vigiar para o cumprimento das normas. [14] Para que isto aconteça devem prever certamente uma importante inversão em planejamento e em educação. Os esforços governamentais deverão ser maiores nos lugares mais vulneráveis e onde a degradação tenha sido maior. Quiçá em alguns deles, o turismo deveria ser restrito ou, até mesmo evitado.

Pede-se ao setor empresarial do turismo de "planejar, desenvolver e conduzir seus empreendimentos minimizando impactos e contribuindo para a conservação de ecossistemas sensíveis, do meio ambiente em geral e levando benefícios às comunidades locais e indígenas".[15] Por isso, seria conveniente realizar estudos prévios da sustentabilidade de cada produto turístico, evidenciando os aportes positivos reais com os riscos potenciais, a partir da convicção de que o setor não pode buscar o objetivo do máximo benefício a qualquer custo. [16]

Finalmente, os turistas devem ser conscientes de que a sua presença em alguns lugares nem sempre é positiva. Com este fim, devem ser informados sobre os benefícios reais que comporta a conservação da biodiversidade, e ser educados em modo compatível ao turismo sustentável. Assim mesmo deveriam reclamar às empresas turísticas propostas que contribuam realmente ao desenvolvimento do lugar.

Em nenhum caso, nem o território nem o patrimônio histórico-cultural dos destinos devem sair prejudicados em favor do turista, adaptando-se aos seus gostos e desejos. Um esforço importante, que de modo especial deve realizar a pastoral do turismo, é a educação à contemplação, que facilite aos turistas descobrir os rastos de Deus na grande riqueza da biodiversidade.

Assim, graças a um turismo que se desenvolve em harmonia com a criação, facilitar-se-á no coração do turista o louvor do salmista: "Ó Senhor, nosso Deus, como é glorioso teu nome em toda a terra!" (Sal 8,2).

 

Cidade do Vaticano, 24 de junho de 2010
+ Antonio Maria Vegliò
Presidente

+ Agostino Marchetto
Arcebispo Secretário

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[1] Organização das Nações Unidas, Resolução A/RES/61/203 aprovada pela Assembleia Geral, 20 de dezembro de 2006.

[2] Cfr. J.-C. Vié, C. Hilton-Taylor and S. N. Stuart (eds.), Wildlife in a Changing World. An analysis of the 2008 IUCN Red List of Threatened Species, International Union for Conservation of Nature and Natural Resources, Gland, Switzerland, 2009, p. 18: http://data.iucn.org/dbtw-wpd/edocs/RL-2009-001.pdf


[4] Um primeiro documento a referir é a Carta do Turismo Sustentável, aprovada na "Conferência Mundial de Turismo Sustentável", celebrada na ilha espanhola de Lanzarote de 27 a 28 de abril de 1995. De forma conjunta, a Organização Mundial de Turismo (OMT), o World Travel & Tourism Council (WTTC) e o Conselho da Terra elaboraram em 1996 o informe Agenda 21 para a Indústria de Viagens e Turismo: Para um desenvolvimento ambientalmente sustentável, que traduz em um programa de ação para o turismo a Agenda 21 das Nações Unidas para a promoção do desenvolvimento sustentável (e foi adotada na Cúpula da Terra, no Rio de Janeiro em 1992). Outra referência importante é a Declaração de Berlim, documento conclusivo da "Conferência internacional de Ministros de Meio Ambiente sobre biodiversidade e turismo", que foi realizado na capital alemã de 6 a 8 de março de 1997. Quiçá seja este documento a contribuição mais importante, devido a sua elaboração, influência, difusão e aos seus signatários. Alguns meses depois assinou-se a Declaração de Manila sobre o impacto social do turismo, de onde se destacou a importância de uma série de princípios a favor da sustentabilidade turística. Como fruto da "Cúpula Mundial do Ecoturismo", organizada em maio de 2002 pela OMT, com apoio do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA), publicou-se a Declaração de Québec sobre o ecoturismo. No marco do "Convênio sobre Diversidade Biológica" editaram-se, no ano de 2004, as Diretrizes sobre a Diversidade Biológica e Desenvolvimento do Turismo. A todos estes documentos de índole internacional deve-se unir os numerosos manuais e compêndios de boas práticas que em relação a este tema foi publicado pela OMT, e entre as quais se pode destacar a intitulada Por um turismo mais sustentável: Guia para responsáveis políticos, editada em 2005 em colaboração com o PNUMA.

[5] Bento XVI, Carta encíclica Caritas in veritate, n. 51, AAS 101 (209), p. 687.

[6] Cfr. Bento XVI, Mensagem para a celebração do XLIII Dia Mundial da Paz 2010, 8 de dezembro de 2009, http://www.vatican.va/holy_father/benedict_xvi/messages/peace/documents/hf_ben-xvi_mes_20091208_xliii-world-day-peace_po.html.

[7] Pontifício Conselho "Justiça e Paz", Compêndio da Doutrina Social da Igreja, Libreria Editrice Vaticana, Cidade do Vaticano 2004, n. 466. Cfr. João Paulo II, Carta encíclica Centesimus annus, n. 40: AAS 83 (1991) p. 843.

[8] Bento XVI, Carta encíclica Caritas in veritate, n. 48, l.c., p. 684.

[9] Ibidem.

[10] Bento XVI, Mensagem para a celebração do XLIII Dia Mundial da Paz 2010, n. 13, l.c.

[11] Cfr. Catecismo da Igreja Católica, Libreria Editrice Vaticana, Cidade do Vaticano 1977, n. 31.

[12] Pontifício Conselho "Justiça e Paz", Compêndio da Doutrina Social da Igreja, n. 487, l.c.

[13] Cfr. Ibidem, n. 470.

[14] Cfr. Benedicto XVI, Carta encíclica Caritas in veritate, n. 50, l.c., p. 686.

[15] Cúpula Mundial del Ecoturismo, Informe Final. Declaração de Québec sobre o ecoturismo, 22 de maio de 2002, Organização Mundial do Turismo e Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente, Madrid 2002, recomendação 21.

[16] Cfr. Organização Mundial do Turismo, Código Ético Mundial para o Turismo, 1 de outubro de 1999, art. 3 §4: http://www.unwto.org/ethics/full_text/en/full_text.php?subop=2

[Texto em Português oferecido pela Santa Sé - VIS]

Fonte: http://zenit.org/article-25365?l=portuguese & VIS (em espanhol)

29 de junho de 2010

SOS Pernambuco e Alagoas: uma campanha para salvar vidas

Por Carla Lisboa, Assessora de Comunicação da Cáritas Brasileira


A Cáritas Brasileira Regional Nordeste II e a Conferência Nacional dos Bispos do Brasil Regional Nordeste 2 (CNBB-NE2) lançam hoje (23.06) campanha de emergência intitulada “SOS Pernambuco e Alagoas” em favor dos atingidos pelas chuvas. As doações poderão ser depositadas no Banco do Brasil, Agência 3505-X, Conta Corrente 5821-1.

Os estragos provocados pelas inundações provocaram, segundo a Secretaria Nacional de Defesa Civil, mais de 40 mortes nos dois estados. A catástrofe contabiliza, de acordo com dados de ontem (22.06), 29 mortes em Alagoas e 15 em Pernambuco. De acordo com a Defesa Civil de Alagoas, esses números podem aumentar à medida que as equipes de socorro enviem novos dados.

A situação foi criada pelo aumento do nível das águas nas cabeceiras dos rios, situados em Pernambuco, os quais, hidrograficamente, deságuam na região do Vale do Paraíba, Vale do Mundaú e Vale do Camaragibe. A falta de água, de alimentos, de abrigo, dentre outras, atinge mais de 200 mil pessoas nos dois estados.




ALAGOAS: Em Alagoas, segundo os boletins oficiais, o rio Mundaú subiu seis metros repentinamente na sexta-feira (18.06), causando enchente no Vale do Mundaú. Há registro de que 177.282 pessoas foram afetadas pelas chuvas e 607 desaparecidos, dos quais 500 vítimas somente no município de União dos Palmares. Até agora, 26.141 pessoas estão desabrigadas e 47.687 estão desalojadas. Há 21 municípios desse estado atingidos e 15 deles decretaram situação de calamidade pública. Mais de 4 mil casas foram destruídas.

Os óbitos em Alagoas foram registrados nos municípios de: União dos Palmares, Murici, Branquinha, Rio Largo, Santana do Mundaú, Joaquim Gomes, e Paulo Jacinto. Em Alagoas, 17 municípios estão em estado de emergência: Santana do Mundaú, Joaquim Gomes, São José da Laje, União dos Palmares, São Luiz do Quitunde, Matriz do Camaragibe, Jundiá, Jacuípe, Branquinha, Paulo Jacinto, Quebrangulo, Capela, Cajueiro, Atalaia, Viçosa, Rio Largo, Murici.

As 15 cidades em situação de calamidade pública são: Santana do Mundaú, Joaquim Gomes, São José da Lage, União dos Palmares, Jacuípe, Branquinha, Paulo Jacinto, Quebrangulo, Capela, Cajueiro, Atalaia, Viçosa, Rio Longo, Satuba e Murici.

PERNAMBUCO: Em Pernambuco, os registros da Defesa Civil estadual indicam que 54 municípios foram afetados pelas chuvas, dos quais 30 estão em situação de emergência e outros nove em situação de calamidade pública decretados pelo governador Eduardo Campos. Ainda de acordo com a Defesa Civil, 42 mil pessoas tiveram de deixar suas casas; 17.808 estão desabrigadas e 24.552 desalojadas.

Em estado de calamidade pública, encontram-se nove municípios: Água Preta, Barra de Guabiraba, Barreiros, Correntes, Cortês, Jaqueira, Palmares, São Benedito do Sul e Vitória de Santo Antão. Outros 30 estão em situação de emergência: Agrestina, Altinho, Amaraji, Belém de Maria, Bezerros, Bom Conselho, Bonito, Cabo de Santo Agostinho, Camaragibe, Catende, Chã Grande, Escada, Gameleira, Gravatá, Ipojuca, Jaboatão dos Guararapes, Joaquim Nabuco, Maraial, Moreno, Nazaré da Mata, Palmeirina, Pombos, Primavera, Quipapá, Ribeirão, São Joaquim do Monte, Sirinhaém, Tamandaré, Vicência e Xexéu.

Mais 15 municípios de Pernambuco foram afetados pelas chuvas: Abreu e Lima, Aliança, Angelim, Araçoiaba, Belo Jardim, Cachoeirinha, Igarassu, Itamaracá, João Alfredo, Jurema, Limoeiro, Olinda, Paulista, Recife e São Lourenço da Mata.

Em Pernambuco, houve a distribuição, até agora, do total de 191,5 toneladas de alimentos e outras 52 toneladas de água foram entregues nos municípios mais afetados. Em Alagoas, 15 mil cestas doadas pelas CONABs de São Paulo, do Ceará, de Minas Gerais e do Rio Grande do Sul, bem como oito mil cestas doadas pela CONAB de Alagoas, já foram enviadas aos locais mais necessitados. São Paulo e Rio Grande do Sul também doaram 21 mil toneladas, entre alimentos, cobertores e roupas.

Fonte: http://www.caritas.org.br/noticias.php?code=13&id=953&filtro=16

Reunião do G8/G20 deve liderar a luta contra crise alimentar

“Décadas de políticas econômicas e agrícolas desorientadas chegaram a ser algo muito difícil de suportar para os agricultores e pessoas de todo mundo. Registra-se um recorde de milhões de pessoas que sofrem atualmente de fome crônica. Uma em cada sete pessoas não tem comida necessária para uma vida básica”, afirma Caritas Internationalis em comunicado. A Caritas Internationalis afirma que a reunião dos países do G8/G20, a ser realizada entre os dias 25 a 27 de junho no Canadá, deverá oferecer uma nova liderança para enfrentar a crescente crise alimentar no mundo.

Segundo a organização, “os grupos G8 e G20 devem mudar as políticas de alimentação global, apoiando uma agricultura em pequena escala, sustentável, nos países em vias de desenvolvimento, em lugar da agricultura industrial”. O diretor executivo de Desenvolvimento e Paz de Caritas Canada, Machael Casey, disse que “diante da fome em muitas partes do mundo, Caritas acredita que as políticas agrícolas devam promover o pequeno agricultor e a produção de alimentos local. Os países do G8 e G20 devem demonstrar a liderança necessária para mudar as desastrosas políticas alimentares do passado. Devem também assumir compromissos de ajuda. Necessitamos de mais ajuda, melhor empregada. Necessitamos também de ver uma ação efetiva a respeito da mudança climática”, acrescentou Casey.

Fonte: http://zenit.org/article-25330?l=portuguese



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(Enquanto isto...)
 
Níger: crise alimentar afeta milhões de pessoas

A Caritas Internationalis deu voz de alerta diante da grave emergência alimentar que é registrada novamente na região do Sahel Ocidental, que está à beira de uma tragédia humana devido à grave escassez de alimentos. Nesta semana, foi estimado que ao menos dez milhões de pessoas passam fome em vários países da África Subsaariana. Embora Níger seja o país mais afetado, com 8 milhões de pessoas em risco, Chade, Mali e Burkina Faso também enfrentam uma grande escassez de alimentos.

Níger dispõe neste momento da metade das reservas necessárias para alimentar a população vítima da escassez. Até agora, foram conseguidos 47 mil toneladas de ajuda alimentar, das 85 mil solicitadas pelas autoridades do país. Da mesma forma, o sistema gratuito de saúde pública de Níger está quase falido, o que teria consequências devastadoras para as crianças, já que os programas para o tratamento da desnutrição são desenvolvidos por meio de centros de saúde.

Como alertou Raymond Yoro, secretário-geral da Caritas Níger, "estamos enfrentando uma possível emergência de sobrevivência infantil, já que 378 mil crianças se encontram em grande risco de padecer de desnutrição e 1,2 milhão está em risco de desnutrição moderada". A Caritas Internationalis destacou que Níger enfrenta uma escassez de alimentos até mesmo mais grave que a vivida durante 2005. Então, recordam os responsáveis da Caritas, "a lição que aprendemos foi que os atrasos na mobilização da ajuda custam vidas".

Diante desta situação, a Caritas Internationalis redobrou sua petição de ajuda a todas as Caritas doadoras do mundo, com objetivo de cobrir as necessidades do pedido de emergência lançado no mês passado para coletar os 2,9 milhões de euros necessários para financiar uma operação humanitária urgente em Níger. Este programa de emergência, ao qual a Caritas Espanha vai apoiar com 150 mil euros, contempla a distribuição de ajuda alimentar a 1,5 milhão de pessoas especialmente vulneráveis, além do desenvolvimento de projetos de "dinheiro por trabalho" e de distribuição de sementes, assim como planos de atenção prioritária para 17 mil crianças, mulheres grávidas e mães de primeira viagem.

Este programa de emergência vai ser desenvolvido em Tillabery, Agades, Rahoua e Zinder, as regiões de Níger onde o déficit alimentício afeta 35% da população. A irregularidade das chuvas, as colheitas ruins, o aumento nos preços dos alimentos e a pobreza crônica contribuíram para o aumento da crise alimentícia em 2010. As pessoas estão enfrentando uma severa escassez de alimentos há seis meses. Agora dependem de meios extremos de adaptação, que incluem vender seu gado, comer alimentos silvestres, tirar seus filhos das escolas e abandonar suas casas em busca de alimentos.

Fonte: http://zenit.org/article-25324?l=portuguese

Cuidados com patentes sobre vida

Intervenção de Dom Silvano M. Tomasi na Organização Mundial do Comércio


Por Inma Álvarez

 

"É incoerente proteger por lei os seres vivos enquanto se permite patentear e comercializar sem empecilhos éticos material genético e microbiológico". Dom Silvano M. Tomasi, observador permanente da Santa Sé no escritório das Nações Unidas e Instituições Especializadas em Genebra, interveio sobre este tema na reunião sobre direitos de propriedade intelectual da Organização Mundial do Comércio (OMC), no último dia 8 de junho.

Em sua exposição, o prelado indicou que a legislação comercial atual permite "excluir da patenteabilidade plantas e animais, mas não micro-organismos"; permite "excluir os processos biológicos que são essenciais para a produção de plantas e animais, mas não os microbiológicos. As patentes das formas de vida poderiam servir às vezes como instrumento para sustentar certas biotecnologias, problemáticas do ponto de vista ético e do ponto de vista de um sistema de propriedade intelectual que favoreça o desenvolvimento".

Dom Tomasi recordou especialmente o Artigo 4 da Declaração Universal sobre o Genoma Humano e os Direitos Humanos, que afirma que o material genético humano, "em seu estado natural, não pode dar lugar a benefício", assim como o artigo 21 da Convenção do Conselho da Europa e outras declarações no mesmo sentido. "Um mero controle comercial das patentes sobre a vida", adverte o prelado, "poderia influenciar tanto a segurança alimentar como as perspectivas de desenvolvimento dos países pobres", ao implantar-se "monopólios privados" sobre estes recursos.

Além disso, insistiu na preocupação que este tipo de patentes desperta, tanto no âmbito econômico quanto ambiental e, sobretudo, ético. As patentes sobre a vida terão "um impacto negativo sobre os direitos do consumidor, sobre a conservação da biodiversidade, sobre a tutela do meio ambiente, sobre os direitos dos povos indígenas, sobre a liberdade científica e acadêmica e, em definitivo, sobre o desenvolvimento econômico de muitos países. Além disso, batem de frente com a Declaração sobre os Direitos dos Povos Indígenas, que a ONU adotou em 2007 e que, em seu artigo 31, reconhece a estes, entre outros, o direito à tutela dos seus recursos ambientais e genéticos".

Também se referiu à preocupação - manifestada inclusive pela Assembleia Especial do Sínodo para a África - sobre as sementes geneticamente modificadas: "Uma aplicação ilimitada dos procedimentos patenteadores sobre os desenvolvimentos biológicos, científicos e técnicos, poderia ser prejudicial para os métodos de pesquisa e produção", especialmente nos países pobres, ao "concentrar" a propriedade das sementes.

"A comunidade internacional deveria prestar a devida atenção às preocupações pela concentração de tecnologia e de recursos para a produção alimentar nas mãos de um pequeno grupo de entidades e sociedades guiadas exclusivamente por objetivos comerciais", advertiu. O prelado concluiu indicando que o objetivo principal da comunidade internacional "deveria ser o de promover o bem comum, além disso, "as regras e negociações do comércio internacional deveriam visar ao bem de todos, especialmente dos pobres e vulneráveis".

Fonte: http://zenit.org/article-25321?l=portuguese